Empreendedores: Ao olhar para quase três décadas no Grupo CRM, qual você considera ter sido a transformação mais significativa que liderou, não apenas para as marcas, mas para o mercado de chocolates premium?
Renata Vichi: A transformação mais significativa foi mudar o eixo do chocolate premium no Brasil. Não se tratou apenas de expandir lojas ou fortalecer o portfólio e sim de provocar uma mudança de mentalidade no mercado. Conduzi um movimento que reposicionou o chocolate como uma experiência completa, unindo desejo, consistência e presença nacional com estratégia e precisão. Fizemos o país enxergar que uma marca premium precisa ser emocional, contemporânea e profundamente conectada com seu público. Esse avanço abriu caminho para a evolução da Kopenhagen, a criação da Brasil Cacau e também para a entrada da Lindt no Brasil pelas minhas mãos, que escolheu o Grupo CRM como parceiro estratégico para introdução e expansão da marca no país. O maior impacto foi provar que tradição e inovação convivem e podem redefinir categorias inteiras, fazendo o Brasil deixar de seguir modelos internacionais para se tornar referência em consumo premium.
Empreendedores: Em momentos de pressão ou grandes decisões, qual filosofia ou método você sempre usava para guiar o time e manter a cultura forte?
Renata Vichi: Minha filosofia sempre foi clareza, proximidade e propósito. Em decisões críticas, eu trazia o time para perto, compartilhava o caminho com transparência e reforçava o porquê. Cultura se sustenta em gestos diários, não em mensagens soltas. Por isso sempre incentivei lideranças presentes na operação, ouvindo o consumidor e apoiando as equipes. Outro princípio que sempre me guiou é simples: o ritmo da cultura é definido pelo exemplo da liderança. Mesmo nos momentos de maior pressão, manter coerência entre discurso e prática sempre foi prioridade absoluta. E acima de tudo sempre estive muito próxima da linha de frente e no chão de loja em todos os cantos do Brasil.
Empreendedores: A gente pode ter um spoiler sobre seus próximos passos profissionais?
Renata Vichi: Estou vivendo uma fase especial de reflexão e construção. Depois de quase 30 anos dedicados intensamente ao Grupo CRM, meus próximos passos certamente estarão ligados a projetos que unam propósito, impacto e inspiração e que conversem com o novo comportamento dos consumidores. Tenho recebido convites muito interessantes para atuar em conselhos, algo que já fiz e gosto muito, e também sigo avaliando outras possibilidades com carinho. O que mais me motiva agora é a chance de amplificar conhecimento, apoiar novos líderes e contribuir para transformações ainda maiores no ecossistema empresarial brasileiro. E, claro, eu sei que não vou ficar muito tempo sem empreender.
Empreendedores: Você sente que o consumidor brasileiro mudou nos últimos anos?
Renata Vichi: Mudou profundamente. Hoje ele é mais informado, mais exigente e muito mais consciente do que escolhe apoiar e comprar. Ele avalia marca, discurso, posicionamento, impacto e verdade ao mesmo tempo. Também vemos um movimento importante: o consumidor está disposto a pagar mais por significado, qualidade e experiência e não apenas pelo produto. Esse comportamento impulsionou o chocolate premium, mas também elevou o nível de responsabilidade das marcas. Ele busca coerência e penaliza rapidamente quem não sustenta o que promete.
Empreendedores: Qual conselho você daria para líderes, especialmente mulheres, que desejam construir uma carreira longeva?
Renata Vichi: Primeiro, não abra mão da sua essência. Carreiras duradouras são construídas com autenticidade e não com perfeição. Evoluir precisa ser um objetivo constante, mas valores são inegociáveis. Segundo, desenvolva uma rede de apoio pessoal e profissional porque ninguém cresce sozinha. E, por fim, aprenda a ocupar seu espaço com altivez e resultado. Muitas vezes nós mesmas diminuímos nossa voz. Prepare-se, estude, entregue e permita-se ser vista pelo seu trabalho e pela força da sua entrega. Uma carreira longeva nasce de coragem, disciplina, ousadia e propósito. E principalmente da disciplina de continuar mesmo quando o caminho aperta.
