
A pandemia deixou uma lição cicatrizada na memória do mercado: quem dependia de apenas uma porta de entrada para o cliente sofreu muito mais do que deveria. O empreendedorismo resiliente exige a construção de um ecossistema de vendas onipresente. Não se trata apenas de "estar na internet", mas de integrar canais físicos e digitais para que a receita não pare, independentemente de crises sanitárias, mudanças de algoritmo ou chuvas torrenciais.
A armadilha da dependência de plataforma
Muitos negócios digitais nascem e morrem à mercê de terceiros. Construir sua empresa inteira baseada apenas no tráfego de uma rede social ou nas vendas de um único marketplace é construir casa em terreno alugado. Se o algoritmo muda ou sua conta é bloqueada, o faturamento zera.
Estudos da Harvard Business Review sobre varejo omnichannel mostram que clientes que utilizam mais de um canal (site, loja física, aplicativo) gastam, em média, 4% a mais em loja e 10% a mais online do que clientes de canal único.
O empresário deve ser dono dos seus dados. Levar o cliente da rede social para um canal proprietário, como e-mail marketing ou uma lista de transmissão exclusiva, é a única forma de garantir a soberania da sua base de contatos.
Franquias e o caminho da expansão segura
O modelo de franquias oferece um caminho estruturado para escalar uma marca bem-sucedida. Ele transforma criatividade em processos replicáveis, permitindo crescimento com menor risco. A superação de crises neste formato depende de um suporte robusto da franqueadora e da adaptação ágil de cada unidade às realidades locais.
Personalização é a resposta para a saturação
Com a explosão do e-commerce, o consumidor é bombardeado por ofertas genéricas o dia todo. Nesse cenário ruidoso, a personalização deixou de ser um mimo para ser uma exigência.
O relatório Next in Personalization da McKinsey & Company revela que 71% dos consumidores esperam que as empresas entreguem interações personalizadas e 76% ficam frustrados quando isso não acontece.
Isso significa que o "e-mail de massa" funciona cada vez menos. A tecnologia permite saber o que o cliente comprou e sugerir o complemento exato. Tratar o CPF como único, e não como apenas mais um número na planilha, é o que fideliza.
A venda consultiva, mesmo no ambiente digital, recria a confiança do "olho no olho" que existia no comércio de bairro antigo.
Criatividade como ferramenta de sobrevivência
Durante crises agudas, o manual padrão de gestão geralmente falha. É nesse momento que a criatividade se torna o maior ativo do negócio. Não a criatividade artística, mas a capacidade de encontrar soluções inusitadas para problemas de caixa e logística.
Empresas que sobreviveram aos últimos anos foram aquelas que pivotaram rápido: restaurantes que viraram mercados, academias que alugaram equipamentos para casa e confecções que passaram a produzir itens hospitalares. A rigidez quebra, a flexibilidade enriquece.
O líder deve incentivar uma cultura onde ideias fora da caixa são testadas rapidamente, permitindo que a empresa encontre novas avenidas de crescimento quando as estradas principais estão bloqueadas.
Networking para acessar novos canais de distribuição
Muitas vezes, o produto é excelente, mas não chega ao grande público por falta de distribuição. Aqui entra o poder das conexões. Fazer networking estratégico com grandes varejistas, distribuidores regionais ou influenciadores digitais pode abrir portas que levariam anos para serem arrombadas sozinhas.
Participar de grupos de negócios e associações setoriais coloca o empreendedor na mesa com quem detém os canais. Uma parceria bem costurada pode colocar seu produto em mil pontos de venda simultaneamente.
Quem caminha sozinho tem um teto de crescimento baixo; quem se conecta com os gigantes do setor pega carona na infraestrutura que eles já construíram.
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O mundo Phygital e a experiência sem atrito
A fronteira entre o físico e o digital desapareceu. O conceito de Phygital (físico + digital) descreve a jornada do consumidor moderno: ele vê o produto na loja, compara o preço no celular e compra para receber em casa. Ou compra online e retira na loja para economizar o frete.
Pesquisas da Wharton School indicam que a integração fluida entre esses mundos é determinante para a satisfação. O cliente não quer saber se o estoque do site é diferente da loja; ele vê uma marca só.
O empresário precisa unificar seus sistemas de gestão (ERP) para que a informação flua sem barreiras. A experiência deve ser sem atrito, pois qualquer dificuldade no checkout ou na troca é motivo suficiente para o cliente migrar para o concorrente a um clique de distância.
Formando novos empreendedores dentro de casa
Para sustentar essa complexidade de múltiplos canais e personalização, o fundador não pode centralizar tudo. O crescimento exige a formação de "intraempreendedores": colaboradores com mentalidade de dono.
Delegar responsabilidade real sobre um canal de vendas ou uma linha de produtos cria engajamento. Gente boa precisa de desafios, não apenas de tarefas.
Ao dar autonomia para que sua equipe tome decisões e participe dos resultados, você multiplica a capacidade intelectual da empresa, garantindo que cada canal receba a atenção e a criatividade necessárias para performar no máximo potencial.



