
Existe uma obsessão no mercado pelo hipercrescimento, o chamado "Blitzscaling", mas poucos falam sobre os cadáveres corporativos que essa estratégia deixa pelo caminho. Escalar a receita sem antes escalar a maturidade da gestão e a robustez da cultura é como construir um arranha-céu sobre areia movediça. O crescimento sustentável exige que a infraestrutura de pessoas e processos chegue antes do faturamento, garantindo que a empresa suporte o peso do próprio sucesso.
O apagão da média gerência na expansão
Quando uma empresa dobra de tamanho, o fundador se afasta inevitavelmente da ponta da operação. Nesse vácuo, surge a necessidade crítica da média gerência. O erro comum é promover os melhores técnicos a gestores sem dar o devido treinamento. Um excelente vendedor não se torna automaticamente um bom diretor comercial.
Sem líderes intermediários preparados para traduzir a visão estratégica em ação tática, a empresa trava. O CEO fala, mas a mensagem não chega à base. Investir na formação de líderes de meio de campo é o melhor seguro contra a paralisia operacional. Eles são o cimento que mantém a estrutura coesa enquanto as paredes sobem.
O líder que guia crescimento sustentável
A gestão prática une liderança, cultura e inovação para guiar o crescimento. Um CEO estratégico posiciona a empresa com clareza, transformando falhas em aprendizados e pessoas no maior ativo. Esse equilíbrio entre visão e execução constrói uma base sólida para resultados que perduram.
Contratar devagar e demitir rápido
A urgência de preencher cadeiras vazias durante uma fase de expansão leva a contratações equivocadas. Trazer pessoas apenas pela competência técnica, ignorando o alinhamento cultural (culture fit), é injetar vírus no organismo da empresa. Uma maçã podre estraga o cesto muito mais rápido do que uma maçã boa recupera o resto.
A disciplina de contratar devagar garante a entrada de pessoas que compartilham os valores do negócio. Por outro lado, quando o erro de contratação fica evidente, a demissão deve ser rápida e respeitosa. Manter alguém desalinhado por pena ou medo do trabalho de reposição envia uma mensagem de mediocridade para os funcionários de alto desempenho.
Processos são ferramentas de liberdade
No início, a informalidade agiliza. No crescimento, a informalidade mata. Muitos empreendedores resistem à criação de processos por acharem que isso engessa a criatividade. Na verdade, processos bem desenhados libertam o talento da necessidade de reinventar a roda a cada tarefa trivial.
A padronização garante a consistência da entrega ao cliente. Se a empresa tem 100 funcionários, ela não pode ter 100 formas diferentes de enviar uma proposta. A gestão na prática envolve transformar a "arte" de fazer o negócio em um "método" replicável e escalável, permitindo que a qualidade independa de quem executa a tarefa.
A armadilha da receita sem lucro
Crescimento de faturamento não é sinônimo de saúde financeira. Muitas startups quebram faturando milhões porque seus custos de aquisição de cliente (CAC) crescem mais rápido que a receita. O crescimento sustentável deve ser financiado por margens saudáveis, e não apenas por queima de caixa de investidores.
O gestor precisa ter o olho fixo na Unit Economics. Cada venda deve contribuir positivamente para o lucro marginal. Escalar um modelo de negócio que dá prejuízo na unidade é apenas acelerar a falência. A sobriedade financeira é o que permite à empresa atravessar invernos econômicos sem demissões em massa.
Leia também:
Você está fazendo networking do jeito certo? Aprenda nesta aula gratuita
Tauá supera 2 mil reservas de resort em João Pessoa antes da abertura
Retenção de talentos é mais barato que recrutamento
Em tempos de expansão, o foco costuma estar em trazer gente nova, esquecendo-se de quem ajudou a construir a base. A perda de conhecimento institucional quando um funcionário antigo sai é incalculável. Reter talentos chave deve ser a prioridade número um do RH.
Isso vai além de salário. Envolve planos de carreira claros, desafios estimulantes e reconhecimento. As pessoas ficam onde sentem que estão evoluindo. Se a empresa cresce e o funcionário sente que ficou para trás, ele sai. O crescimento do negócio deve arrastar o crescimento das pessoas junto.
A solidão e a resiliência do decisor
Liderar o crescimento é solitário. O CEO precisa tomar decisões impopulares para garantir a sobrevivência do todo. Cortar um projeto querido ou demitir um amigo que não acompanhou a evolução da empresa são dores reais da gestão. A resiliência emocional é a competência mais exigida nesse estágio.
O líder deve buscar mentores e grupos de apoio para validar suas decisões. A clareza de propósito é o que permite dormir à noite. Saber que as decisões difíceis de hoje estão construindo uma organização capaz de gerar valor por décadas é o combustível que mantém o líder focado na direção correta, ignorando os atalhos perigosos do curto prazo.



