ilustração em computação gráfica ce cérebro formado por pontos interligados flutuando em cima do símbolo do chat gpt

A IA nivela a execução, mas não a estratégia

Por

Anthony Dias

22 de dez. de 2025

A IA nivela a execução, mas não a estratégia

Por

Anthony Dias

22 de dez. de 2025

ilustração em computação gráfica ce cérebro formado por pontos interligados flutuando em cima do símbolo do chat gpt
ilustração em computação gráfica ce cérebro formado por pontos interligados flutuando em cima do símbolo do chat gpt

A euforia com a inteligência artificial muitas vezes esconde um risco silencioso: a padronização medíocre das entregas corporativas. Enquanto algoritmos nivelam a eficiência operacional tornando o "bom" acessível a todos, a verdadeira vantagem econômica se desloca para as competências exclusivamente humanas. O julgamento ético, a negociação complexa e a capacidade de conectar pontos desconexos tornam-se os ativos mais raros e valiosos do mercado atual.

A fronteira irregular da capacidade tecnológica

A inteligência artificial não é boa em tudo. O professor Ethan Mollick, da Wharton School, descreve o conceito da "Fronteira Irregular" (Jagged Frontier), onde a IA supera humanos em tarefas que parecem difíceis (como passar em exames de advocacia), mas falha miseravelmente em tarefas que parecem simples para nós (como entender o sarcasmo em uma negociação ou o contexto cultural de uma piada).

Para o gestor, entender onde essa linha passa é vital. Delegar para a máquina decisões que exigem sensibilidade moral ou contexto social profundo é um erro estratégico. A tecnologia deve ser usada para gerar opções, mas a decisão final precisa passar pelo filtro da consciência humana.

Quem confia cegamente no algoritmo para navegar em zonas cinzentas da gestão corre o risco de cometer gafes reputacionais irreversíveis.

Impacto nos Humanos e Limites da Tecnologia

A IA transforma o trabalho humano, exigindo novas habilidades e adaptação. Seu limite está na interpretação contextual, na criatividade genuína e na empatia, áreas que permanecem como domínio humano. O desafio é integrar a tecnologia como uma ferramenta que amplifica, e não substitui, a inteligência e a intuição das pessoas.

O paradoxo da produtividade versus criatividade

A IA generativa é uma máquina de previsão estatística: ela sugere a próxima palavra ou imagem mais provável com base no que já existe. Isso a torna excelente para tarefas padronizadas, mas perigosa para a inovação disruptiva. Se todos usarem as mesmas ferramentas com os mesmos comandos, o resultado será uma massa homogênea de produtos e serviços idênticos.

Para se destacar, as empresas precisam ir contra a média estatística. A criatividade humana reside na capacidade de imaginar o improvável e o ilógico, algo que o algoritmo é treinado para evitar. A inovação real surge da "anomalia", não do padrão. Utilizar a IA para brainstorm é útil, mas a faísca original e a curadoria final devem permanecer sob domínio humano para garantir a singularidade da marca.

A segurança de dados como novo campo de batalha

A facilidade de uso de ferramentas como ChatGPT ou Midjourney criou um pesadelo de segurança para os departamentos de TI. Relatórios da consultoria Gartner alertam que o vazamento de propriedade intelectual através de IAs públicas é um dos maiores riscos corporativos da década.

Funcionários bem-intencionados, ao inserirem dados de clientes ou códigos de software para "ajudar" no trabalho, estão entregando segredos industriais para servidores terceiros.

A governança de dados precisa ser atualizada urgentemente. Não se trata de proibir o uso, mas de criar ambientes seguros (Enterprise AI) onde os dados da empresa não sirvam de treinamento para o modelo público.

O ativo mais valioso do século XXI é a informação proprietária; protegê-la da ingestão indiscriminada pelos algoritmos é uma questão de soberania empresarial.

Soft skills são as novas hard skills

O World Economic Forum, em seu relatório sobre o Futuro dos Empregos, destaca que as habilidades mais demandadas até 2027 não são técnicas, mas comportamentais: pensamento analítico, empatia, liderança social e curiosidade. A codificação (programação) básica está sendo automatizada, mas a capacidade de liderar uma equipe desmotivada não.

Isso inverte a lógica de contratação e treinamento. O conhecimento técnico tem prazo de validade curto, pois a IA aprende rápido. Já a maturidade emocional e a capacidade de gestão de conflitos são perenes.

Investir no desenvolvimento humano é a única forma de complementar a eficiência da máquina. O profissional do futuro é aquele que sabe fazer as perguntas que a IA não sabe responder.

Leia também:

Você está fazendo networking do jeito certo? Aprenda nesta aula gratuita

A inteligência artificial está criando um novo tipo de empreendedor

O fim da barreira da mediocridade

Antes, escrever um texto razoável ou criar uma imagem aceitável exigia anos de treino. Hoje, qualquer um faz isso em segundos. Isso significa que o "médio" perdeu seu valor econômico. O mercado vai se polarizar: de um lado, a automação barata e abundante; do outro, a excelência humana artesanal e cara.

Empresas que tentarem vender o "básico" competirão com robôs de custo marginal zero. O lucro real estará na customização extrema e no relacionamento, áreas onde a tecnologia ainda engatinha.

O toque humano, antes visto como uma ineficiência no processo industrial, volta a ser um artigo de luxo e um diferenciador de margem alta.

A liderança como bússola moral

Em um mundo onde é possível criar deepfakes de vídeo e voz, ou gerar notícias falsas em escala industrial, a confiança torna-se a moeda mais forte. O papel do líder expande-se para ser uma bússola moral. Clientes e parceiros buscarão empresas que demonstrem transparência sobre o uso de IA e que mantenham a ética acima da conveniência tecnológica.

A tecnologia não tem valores; ela apenas executa funções. Cabe à liderança definir os limites do que é aceitável. A integridade não pode ser automatizada. As organizações que navegarem essa revolução mantendo sua bússola ética intacta emergirão como portos seguros em um oceano de conteúdo sintético e desconfiança generalizada.

Portal Administradores Negócios Digitais Ltda - 08.913.843/0001-90 | ©️ 2000 - 2025

Portal Administradores Negócios Digitais Ltda - 08.913.843/0001-90 | ©️ 2000 - 2025